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João Lourenço será recebido pelo seu homólogo francês, Emmanuel Macron, numa cerimónia oficial que terá lugar no Hotel dos Invalides.

O Presidente de Angola inicia nesta quinta-feira, 16 de janeiro, uma visita oficial a França de 48 horas. João Lourenço será recebido pelo homólogo francês, Emanuel Macron, numa cerimónia oficial que terá lugar no Hotel dos Invalides, os dois estadistas seguem depois para o Eliseu num encontro bilateral e o dia termina com um jantar de Estado.

Trata-se da segunda visita de João Lourenço a França, a última remonta a 2018 e desde então as relações entre os dois países têm-se reforçado. De acordo com a agenda do Eliseu, o Presidente de Angola, João Lourenço, será recebido esta manhã pelo homólogo francês, Emmanuel Macron, numa cerimónia oficial que terá lugar no Hotel dos Invalides.

Os dois estadistas seguem depois para o Eliseu para um encontro bilateral, fechado à imprensa, onde devem analisar as parcerias económicas e a instabilidade política no continente africano, nomeadamete o conflito que opõe a RDC ao Ruanda. 

De acordo com a presidência francesa, no processo de Luanda, que se refere aos esforços de mediação do Presidente João Lourenço no conflito entre Kigali e Kinshasa, no leste da RDC, “a  França apoia totalmente, apoia fortemente, apoia activamente”. O assunto estará “no centro do encontro” entre o chefe de Estado angolano e o homólogo francês, Emmanuel Macron:

A presidência francesa reconhece “os esforços de Angola” nesta matéria são “muito fortes, mas […] também difícil”, sobretudo desde o fracasso da cimeira que deveria reunir os Presidentes congolês e ruandês, a 15 de Dezembro, em Angola.

Em declarações à RFI, o sociólogo angolano, David Boio, mostra-se céptico quanto à mediação angolana no conflito que opõe a RDC ao Ruanda.

“Não me parece que a resolução do conflito passa por essa mediação. É preciso saber que nestes processos há questões práticas, o Presidente João Lourenço nem sequer fala francês, nem inglês. Como é que são feitas essas mediações do ponto de vista prático? A verdade é que até hoje não houve grandes progressos. Quando os rebeldes do grupo M23 tomaram de assalto a cidade estratégica de Masisi, a presidência de Angola fez um comunicado a reprovar esta acção, mas isso não teve consequências. Eu penso que o que Angola, em termos de conflitos, aprendeu é que os conflitos devem ser resolvidos pelos intervenientes. Tudo quanto é mediação ajuda, mas se não existir vontade própria dos actores e dos intervenientes será muito difícil que se criem grandes resultados”, admite.

Os dois chefes de Estado devem depois prestar declarações à imprensa, reunindo-se novamente num almoço de trabalho.

Esta visita acontece a um mês de João Lourenço  assumir a presidência rotativa da União Africana, durante a 38.ª sessão ordinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, prevista para 15 e 16 de Fevereiro, em Addis Abeba, na Etiópia.

Em declarações à agência de notícias Lusa, o chefe de Estado de Angola disse, esta semana, que o terrorismo, as guerras e a instabilidade política contribuem para o recuo do desenvolvimento de África.

João Lourenço prometeu que durante a presidência angolana da União Africana tentará promover o diálogo para a pacificação e estabilidade do continente.

Ainda nesta quinta-feira, o Presidente angolano e a esposa, Ana Dias Lourenço, serão os convidados de honra de um jantar de Estado que contará com outros convidados.

Na sexta-feira, segundo e último dia da visita, João Lourenço participa no Fórum Económico França – Angola que vai explorar novas dinâmicas na parceria económica entre os dois países, nomeadamente no domínio da agricultura e do estratégico Corredor do Lobito.

O coordenador do Observatório Político e Social de Angola – OPSA – Sérgio Calundungo, afirma que esta visita ocorre num contexto em que Angola procura potenciais investidores.

“O Corredor do Lobito tem um potencial muito grande e representa uma vantagem económica não só para Angola, mas para os países da região, sobretudo para a RDC e Zâmbia. Portanto, penso que neste projecto há espaço para todos os investidores. No entanto, sempre que reflito no Corredor do Lobito, concluo que há um entusiasmo muito grande, mas eu gostaria muito que, a par do entusiasmo, também houvesse a noção dos potenciais riscos”, indica.

Sérgio Calundungo alerta para facto dos riscos inerentes a uma má exploração do Corredor do Lobito que poderá gerar o descontentamento das comunidades locais.

“Estamos a falar de riscos de cariz ambiental, porque vai entrar muita infraestrutura, muitos equipamentos e alguns deles com algum impacto ambiental numa zona que, durante muito tempo esteve abandonada a si própria e, portanto, não teve muita intervenção humana.

Temos ainda os riscos de cariz social, sobretudo o que poderá gerar um certo descontentamento. Aliás, a França tem assistido, muito recentemente, a este tipo de reivindicações.

Eu acredito que devemos assegurar que todos esses investimentos não se traduzam em invasão de terras, conflitos, disputas pelo acesso à terra, acesso a água, acesso a outros recursos com as comunidades locais.

Portanto, sem dúvidas que o Corredor do Lobito virou um ex-libris e chama muita atenção não é só do ponto de vista do investimento nas infraestruturas de transporte, mas também de infraestruturas de apoio à logística e, sobretudo a montante e a jusante, investimentos no sector agrícola, mineral e nos serviços à volta deste corredor”, conclui.

VC/Anderson Mangovo | Mérito: RFI

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