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“Não há vencedores numa guerra comercial e ir contra o mundo só levará ao autoisolamento”, afirmou Xi Jinping, esta sexta-feira, numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que está em visita oficial à capital chinesa.

“Durante mais de 70 anos, o desenvolvimento da China baseou-se na autossuficiência e no trabalho árduo — nunca em esmolas alheias – e o país não teme qualquer repressão injusta”, acrescentou o presidente chinês. “Independentemente de como o ambiente externo mude, a China permanecerá confiante, focada e se concentrará em gerir bem os próprios assuntos”.

Xi Jinping declarou ainda, no contexto da visita do governante espanhol ao país, que a China e a União Europeia “têm de assumir as próprias responsabilidades internacionais e, em conjunto, salvaguardar a globalização e o ambiente de comércio internacional, além de resistir a qualquer coerção unilateral”.

“Isso não vai apenas salvaguardar os nossos direitos e interesses legítimos, mas também a justiça e a equidade internacionais e manterá as regras e a ordem internacionais”, enfatizou o presidente chinês.

Também esta sexta-feira, o Governo chinês anunciou um aumento para 125 por cento, nas taxas impostas sobre produtos oriundos dos Estados Unidos, mantendo a política de retaliar os aumentos das tarifas sobre bens chineses decretados por Washington. Valor superior aos 84 por cento anunciados na quarta-feira.

Relações “pautadas pela reciprocidade”

No final do encontro, Pedro Sánchez destacou que “a Espanha e a Europa têm um déficit comercial significativo com a China” que deve ser corrigido. Apesar disso, o primeiro-ministro espanhol considerou que devem impedir que “as tensões comerciais atrapalhem o potencial de crescimento das relações (…) entre a China e a UE”.

“Espanha é um país profundamente pró-europeu que vê a China como um parceiro da União Europeia”, afirmou Sánchez, que chegou à capital chinesa na quinta-feira à noite.

Madrid vai “trabalhar para que as relações entre a UE e a China sejam pautadas pelo diálogo e pela reciprocidade”, assegurou.

Os laços entre a Europa e a China ficaram fragilizados pela aproximação de Pequim a Moscovo, no contexto da invasão da Ucrânia pela Rússia. Bruxelas criticou Pequim por ter apoiado Moscovo económica e diplomaticamente, embora a China tenha garantido repetidamente que pretende uma solução pacífica para o conflito.

O regresso ao poder de Donald Trump pode, no entanto, remodelar alinhamentos geopolíticos e parcerias económicas. As posições antagónicas do líder norte-americano face à aliança transatlântica e a guerra comercial lançada contra o resto do mundo são vistas por analistas como suscetíveis de reaproximar Europa e China.

“A Espanha trabalhará sempre para promover relações sólidas e equilibradas entre a China e a UE. Uma Europa forte também contribui para a estabilidade e a prosperidade mundiais”

, frisou ainda o líder espanhol a Xi Jinping.

A reunião decorreu nas instalações protocolares de Diaoyutai e não no Grande Palácio do Povo, onde os chefes de Estado ou de Governo são habitualmente recebidos.

Após a espetacular reviravolta de quarta-feira, Donald Trump voltou a defender, no dia seguinte, em Washington, a ofensiva tarifária, que visa trazer de volta a produção industrial aos Estados Unidos, insistindo que se tratava de uma “coisa boa”.

Numa mensagem publicada esta sexta-feira no X, o presidente francês, Emmanuel Macron, avisou que a redução das tarifas norte-americanas para dez por cento é “uma pausa frágil” e que “juntamente com a Comissão Europeia, o país deve ser forte”.

“A Europa deve continuar a trabalhar em todas as contramedidas necessárias”, vincou.

Perante a incerteza causada pelas políticas de Donald Trump, os mercados financeiros continuaram a abanar. O caso da China, finalmente atingida por uma sobretaxa monumental de 145 por cento, também está a assustar os investidores.

Se as negociações com os Estados Unidos falharem, a Comissão Europeia poderá tributar os gigantes tecnológicos norte-americanos, que são agora apoiantes de Trump, ameaçou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

“Existe um vasto leque de contramedidas”, disse von der Leyen, citada pelo jornal Financial Times.

VC/Anderson Mangovo

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