
- By Equipe de Marketing
- |
- maio 8, 2025
- 9 min read
Institucionalizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), num dia como ontem, para chamar a atenção sobre a importância do combate à endometriose, a doença, embora rara, afecta milhares de mulheres em todo o mundo e pode ter um impacto significativo na qualidade de vida, segundo especialistas.
Ao Jornal de Angola, o médico obstetra Carlos Rafael falou sobre a doença, caracterizada como rara e difícil de diagnosticar, tendo avançado que, mensalmente, no hospital municipal de Catete, onde trabalha, há o registo de dois casos e, anualmente, em média cinco a sete pacientes.
O médico afirmou que a dificuldade no diagnóstico decorre do facto de a doença causar dor intensa e afectar muito a vida de quem sofre disso. Ocorre com sintomas de cólicas menstruais e dismenorreia.
O especialista realçou que a doença ocorre quando o tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora dele, provocando sintomas como dores intensas, cólicas menstruais severas, sangramentos irregulares e, em muitos casos, dificuldade para engravidar.
Carlos Rafael esclareceu que, até hoje, a ciência não conseguiu descobrir a causa da doença. Existem várias teorias sobre o evento, sendo que a menstruação que volta para trás é chamada de retrógrada, visto que 90 por cento das mulheres apresentam esse tipo de patologia.
O especialista explicou que o ser humano em si tem um sistema imunológico que tende a destruir todas as células endometriais, que vão parar na cavidade pélvica, mas nem todas as mulheres têm um sistema de defesa ideal, ou seja, não conseguem destruir essas células por elas serem estimuladas como se tivessem um ciclo de uma mulher normal. Referiu ser a origem da descamação, ou seja, é assim que surge a menstruação.
O obstetra explicou que existem dois tipos de endometrioses. Quanto à sua classificação, variam muito, sendo a endometriose intrapélvica a que acomete a região pélvica, e a extrapélvica, que é a endometriose no pulmão e no cérebro, ambas são as famosas extrapélvicas.
Segundo o médico, uma das teorias explica é que o sistema da celomica, células no organismo que têm a capacidade de transformar em outro tipo de células e uma delas é a do peritoneu e pleura, com habilidade de alterar com um certo estímulo e tornar-se endometrial para fazer surtir o efeito das hormonas que a mulher produz através do ovário do estrogénio e a progesterona.
Portanto, continuou, o estrogénio faz com que essas células cresçam e se multipliquem, enquanto a progesterona faz com que essas células comecem a segregar um muco que a mulher deita durante o seu período fértil. Salientou que o ovário deixa de produzir, ou seja, diminui a produção de progesterona, daí as células já não conseguirem manter a integridade, nutrição e tendência de se descamar e, assim, surge a endometriose.
Afecta mulheres jovens com mais de 25 anos
Carlos Rafael informou que as idades mais frequentes é em mulheres jovens com mais de 25 anos, mas isso é variável, de acordo com a população, visto que existem mais referências de endometrioses principalmente em países subdesenvolvidos. Referindo que também são subdiagnosticadas devido ao seu método de diagnóstico em países desenvolvidos por causa da contracepção e menstruação ao longo da vida.
O especialista explicou que a doença pode até acontecer durante a primeira menstruação. É muito complexa, porque o seu diagnóstico também é meio confuso e complexo, cujo principal sintoma é a dor, ou seja, é a dismenorréia intensa, cólica menstrual activa.
O percentual comprometimento da doença, esclareceu, é nas mulheres com idade reprodutiva e é variável de acordo com o tipo de endometriose que apresentam. Se for superficial, a sintomatologia é leve, quer dizer que não afecta o estilo de vida, mas se for profunda ou ovárica, já existe um comprometimento mais exacerbado, o sintoma é mais grave.
Os sintomas da doença
O obstetra informou que os sintomas são semelhantes às cólicas menstruais, o que faz com que leve anos a ser descoberto e, muitas vezes, confunde-se com a endometriose ou uma desminoria de um ciclo menstrual. Acrescentou que quando se medica a paciente com analgésico não resolve o problema, por ser sintomatologia recorrente.
O médico elucidou que existe a necessidade de se investigar mais a fundo essa patologia, porque há pacientes que chegam ao consultório com queixas de sinais de cólicas intensas agravantes ou história de infertilidade, o que dificulta o especialista chegar ao diagnóstico, um processo que pode levar 5 a 10 anos para se ter um diagnóstico certo. Lamentou o facto de muitas vezes as mulheres, na sociedade angolana, só procurarem o médico ou fazerem consultas de ginecologia quando algo as incomoda.
O especialista informou que a demora na procura do médico atrasa o diagnóstico precoce, por ser um quadro semelhante à menstruação, o que faz com que esta mulher pense que está no período menstrual, se auto-medique com um analgésico para aliviar a dor, pensando que resolveu o problema, só que agrava o quadro.
Formação em Videolaparoscopia
As pacientes desta patologia têm historial de sintomas graves com cólicas menstruais, ou seja, dolorosas, e outras sentem dor durante o acto sexual. Acrescentou que actualmente o país já começou a formar médicos em Videolaparoscopia para identificar a doença. A ecografia ajuda a descobrir os sinais sugestivos, mas pode não ser um sinal propriamente da endometriose. O ideal é a Videolaparoscopia.
Muitas mulheres, explicou, com essa patologia, têm problemas de engravidar e podem até mesmo ficar infertéis. “A endometriose é uma das principais causas de infertilidade no nosso meio, porém, mundialmente, devido ao atraso do diagnóstico, muitas vezes as mulheres procuram resolver a infertilidade de outras formas, em vez de irem a um ginecologista ou a um especialista para que se possa procurar a causa da doença”.
Carlos Rafael realçou que essa doença pode também incapacitar a doente de exercer as suas actividades laborais, devido à intensidade do seu quadro clínico durante o período menstrual, ficando incapacitada, o que, muitas vezes, a impede se levantar da cama.
“É meio difícil dizer quantos pacientes atendemos com a patologia de endometriose, por ser raro e difícil o seu diagnóstico”, disse.
O especialista lamentou o facto de muitas mulheres acabarem por sofrer depressão e pensam em suicídios quando descobrem que têm endometriose, porque as dores são intensas e pensam que é o fim do mundo.
Tratamento mitiga ausência de cura
O médico afirmou que a doença ainda não tem cura, mas tem tratamento de alívio da dor, que consiste em ter um especialista de ginecologia em endometriose que faz a contracepção, de modo a diminuir ou a evitar que o ovário cause estímulo às células e posteriormente a descamação.
Por outro lado, explicou que além de ajudar a aliviar as dores, o especialista também faz o tratamento e auxilia a planear a gestação. Aconselhou as mulheres a não olharem a doença como fim do mundo, “não se retraiam, não olhem simplesmente para a enfermidade como o mal de todos os males”.
Carlos Rafael esclareceu que não há como evitar a endometriose, porque ainda não se sabem, realmente, as verdadeiras causas da doença. O melhor a fazer é controlar e prevenir, indo às consultas regulares de ginecologia. Salientou que todas as doenças têm um toque hereditário, mas a endometriose ocorre por falha da própria génese, ou seja, má formação não só das células, mas também como um estímulo adiante.
Para as mulheres que estão a passar por este desafio ou patologia, aconselhou a terem consultas regulares com os ginecologistas e com outros médicos, de forma a diminuir a sua sintomatologia, evolução da doença e programar se for possível a sua reprodução.
Dados divulgados pela OMS.
A endometriose é uma doença rara e sem cura, que tem causado muito sofrimento às mulheres em idade de procriação. A doença já afectou, aproximadamente, 190 milhões de mulheres e meninas em idade reprodutiva em todo o Planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a OMS, actualmente, não existe cura conhecida para a endometriose, mas, sim, tratamentos que buscam controlar os sintomas, dos quais, muitas vezes, podem ser incapacitantes para a mulher. O diagnóstico precoce é a melhor maneira de controlar o problema, mas que em países de baixa e média rendas é comum que acções para a combater sejam limitadas ou insuficientes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a endometriose como uma doença crónica que afecta 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo. A OMS destaca a importância de um diagnóstico precoce e de tratamentos eficazes, embora o acesso a estes seja limitado em muitas regiões. A doença é caracterizada pela presença de tecido endometrial fora do útero, causando dor intensa, infertilidade e outros sintomas que afectam a qualidade de vida.
A OMS considera a endometriose uma doença grave que merece atenção e esforços para melhorar o acesso ao diagnóstico e tratamento.
Fonte: Jornal de Angola