• 5 min read

O presidente chinês, Xi Jinping, alertou, esta quarta-feira, que o mundo está perante uma escolha entre a paz e a guerra num grande desfile militar em Pequim, ladeado pelo homólogo russo, Vladimir Putin, e pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un, numa demonstração de força sem precedentes. “Hoje, a humanidade depara-se com a escolha entre a paz ou a guerra, o diálogo ou o confronto”, disse Xi a uma multidão de mais de 50 mil espectadores na Praça Tiananmen, acrescentando que o povo chinês “está firmemente do lado certo da história”.

“O rejuvenescimento da nação chinesa é imparável e a nobre causa da paz e do desenvolvimento da humanidade triunfará certamente”, acrescentou Xi.

Num discurso breve, Xi recordou as vítimas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e apelou à erradicação das causas da guerra, para evitar a repetição da História, num momento de crescentes tensões geopolíticas e desafios à ordem internacional do pós-guerra.

A principal mensagem, contudo, foi de afirmação do papel da China no mundo: “O povo chinês é um povo que não teme a violência, é autossuficiente e forte”, disse.

Seguiremos o caminho do desenvolvimento pacífico e trabalharemos de mãos dadas com os povos de todos os países para construir uma comunidade de futuro partilhado para a humanidade”, sublinhou.

O evento para assinalar os 80 anos da derrota do Japão no final da Segunda Guerra Mundial foi amplamente ignorado pelos líderes ocidentais. 

A cerimónia começou com uma salva de 80 tiros de artilharia e a execução do hino nacional, “Marcha dos Voluntários”, composto em 1935 durante a resistência à invasão japonesa.

Xi percorreu o alinhamento militar numa limusina preta clássica, saudando os soldados e colunas de mísseis e veículos blindados, enquanto estes respondiam em uníssono com lemas como “Servimos o povo”.

Helicópteros que transportavam grandes faixas e caças transmitiram informações durante uma demonstração de 70 minutos que culminou com a libertação de 80 mil aves da “paz”.

Grande parte do armamento e equipamento do desfile estava a ser exibido ao público pela primeira vez, segundo as autoridades militares chinesas. Isto incluía mísseis hipersónicos concebidos para destruir navios no mar. Estas armas são de particular preocupação para a Marinha dos EUA, que patrulha o Pacífico Ocidental a partir do seu quartel-general da 7ª Frota, no Japão.

Estavam também em exposição drones subaquáticos, incluindo o AJX002 e um novo míssil balístico intercontinental, o DF-61, que, segundo a China, poderia transportar ogivas nucleares para alvos distantes.

Vestindo uma túnica ao estilo usado pelo antigo líder Mao Tsé-Tung, Xi cumprimentou mais de 25 líderes na passadeira vermelha, incluindo o indonésio Prabowo Subianto, que fez uma aparição surpresa apesar dos protestos generalizados no país.

Sentado entre Putin e Kim, na galeria de honra, Xi conversou repetidamente com os dois líderes enquanto milhares de soldados e equipamento desfilavam à sua frente. Foi a primeira vez que o trio apareceu junto em público.

Entre os outros convidados estavam o presidente iraniano Masoud Pezeshkian e o chefe da junta militar de Myanmar, Min Aung Hlaing. 

Nenhum líder ocidental de relevo marcou presença no desfile. Kim foi acompanhado pela filha, Kim Ju-ae, que os serviços de informação sul-coreanos consideram a sua mais provável sucessora, embora não tenha sido vista ao seu lado no desfile. A última vez que um líder norte-coreano assistiu a um desfile chinês foi há 66 anos.

Numa receção sumptuosa após o desfile no Grande Salão do Povo, Xi disse aos seus convidados que a humanidade não deve regressar à “lei da selva”. 

Putin e Kim reunidos em Pequim

Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Coreia do Norte, Kim Jong-un, reuniram-se em Pequim para conversações bilaterais.

O encontro decorreu na casa de hóspedes de Diaoyutai, após uma receção oficial, tendo os dois líderes viajado juntos até ao local das negociações no mesmo automóvel, segundo o Kremlin.

Perante jornalistas, no início da reunião, Putin elogiou a bravura e o heroísmo dos soldados norte-coreanos que, segundo afirmou, combateram ao lado das tropas russas para repelir uma incursão ucraniana na região fronteiriça de Kursk, no oeste da Rússia.

A presença de Putin em Pequim ocorreu numa altura em que a Rússia lançou um amplo ataque aéreo noturno contra a Ucrânia, ferindo pelo menos quatro pessoas e levando a Polónia a enviar aviões de defesa.Trump fala em conspiração contra os EUA

Na intervenção, Xi não mencionou os Estados Unidos, mas agradeceu o apoio dos países estrangeiros que ajudaram a China na resistência contra a invasão japonesa.

Por favor, transmitam os meus mais calorosos cumprimentos a Vladimir Putin e Kim Jong-un, enquanto conspiram contra os Estados Unidos da América“, afirmou o presidente norte-americano numa publicação dirigida a Xi no Truth Social, no início do evento. Destacou ainda o papel dos EUA em ajudar a China a garantir a sua independência do Japão durante a Segunda Guerra Mundial.

Trump tinha dito anteriormente aos jornalistas que não via o desfile como um desafio aos Estados Unidos. O principal porta-voz do Governo japonês recusou comentar o desfile, acrescentando que as duas principais economias da Ásia estavam a construir “relações construtivas”.

Taiwan, governada democraticamente, pediu à população que não comparecesse no desfile, alertando que a presença poderia reforçar as reivindicações territoriais de Pequim. Taiwan não celebra a paz com o cano de uma arma, disse o seu presidente, Lai Ching-te, na quarta-feira, numa crítica mordaz ao evento.

RTP

Categories: PolíticaTags: