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André Ventura alegou desaparecimento de 50 angolanos em Lisboa. PSP, Governo e Embaixada negam, mas sociólogo ouvido pela DW confirma que alguns da comitiva permaneceram em Portugal.

Dias depois da visita oficial do Presidente angolano, João Lourenço, a Portugal, no final de julho, o líder do Chega, André Ventura, denunciou, num vídeo publicado nas redes sociais, uma alegada fuga de mais de 50 angolanos do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder).

“Este vídeo fui eu que coloquei também nas redes sociais, dessa malta que tinha vindo apoiar o Presidente de Angola, João “Este vídeo fui eu que coloquei também nas redes sociais, dessa malta que tinha vindo apoiar o Presidente de Angola, João Lourenço”, afirmou no vídeo publicado.

André Ventura exigiu ao Governo português a localização desses militantes, que teriam fugido da comitiva de 164 elementos mobilizados para apoiar o chefe de Estado angolano. “Foi o poder de Angola que pagou a viagem, que os trouxe para cá e os levou para a frente do Parlamento […] Agora, o mais grave não é isso, é que alguns fugiram, desapareceram”, acusou.

Mas as alegações do presidente do Chega revelaram-se infundadas ou, pelo menos, distorcidas. A Polícia de Segurança Pública (PSP), contactada pela agência de notícias Lusa, disse desconhecer o alegado desaparecimento e esclareceu não ter recebido qualquer denúncia relacionada com o caso. O Governo português desvalorizou a informação, classificando-a como fake news, e recusoi comentar, “por considerar que não deve abrir o precedente de dar resposta” a conteúdos de desinformação.

A assessoria de imprensa da Embaixada de Angola em Lisboa diz tratar-se de uma acusação “absolutamente falsa”, sublinhando que “as ações de apoio ao Presidente João Lourenço foram exclusivamente feitas por membros da comunidade angolana residente em Portugal”.

Contactadas pela DW, várias fontes entre os cidadãos angolanos radicados em Portugal também desmentem a informação. Segundo uma dessas fontes, que pediu anonimato, quem foi apoiar João Lourenço junto do Parlamento português foram, sobretudo, militantes do MPLA mobilizados em Lisboa e no interior do país.

Em entrevista à DW, o sociólogo angolano Manuel Dias dos Santos (“Nelo”) apresenta outra versão: “Claro, vieram algumas pessoas de Luanda, mas vieram completamente controladas e tuteladas. É verdade que algumas delas ficaram por Lisboa, mas nunca no número que foi aventado, de 50 pessoas. Era impossível, até porque muitas dessas pessoas vieram num quadro completamente controlado pelos responsáveis do partido MPLA, que pretenderam passar uma imagem de solidariedade com a presença do Presidente angolano cá.”

A intenção de André Ventura com esta história “é óbvia”, comenta o membro da Plataforma de Reflexão Angola:”Voltar a trazer à tona a agenda política do partido Chega sobre migração. O Chega é contra o acordo de mobilidade da CPLP, por exemplo”.

“O que André Ventura busca, tão-somente, com esta ação, é conseguir, mais uma vez, passar a ideia ao eleitorado de que existe fragilidades no controlo migratório e que há uma ameaça de que as pessoas podem entrar ilegalmente no país e com isso vender a ideia de insegurança quase que permanente que temos assistido”, declara.

Dias dos Santos conclui que, sempre que houver uma câmara e a possibilidade de mediatizar qualquer facto para ganhos políticos, André Ventura “aproveitará a ocasião”.

DW

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